De repente, parece que foram apagados por completo (tal como o registo de deputado de José Sócrates na Assembleia da República), os últimos 6 anos de governação em Portugal. Estou em crer que daqui a uns anos, alguém se lembrará de registar, nos compêndios da História de Portugal, que o período de 2005 a meados de 2011, é omisso por falta de documentação que suporte tudo o que se passou neste país. Ninguém saberá quem governou nem o que na realidade se passou. Houve uma interrupção na história.
É que ouvindo hoje falar os socialistas, ficamos mesmo com a noção de que o que referi atrás é pura realidade. Por exemplo, ouvindo António José Seguro falar (desculpem bater novamente no ceguinho mas ele põe-se constantemente a jeito), fico com a sensação de termos hibernado desde 2005, para voltarmos a acordar em 2011, com uma situação económica e financeira desastrosa, que ninguém sabe como surgiu, nem quem foi ou quem foram os responsáveis e que este governo PSD/CDS (que está a tentar tirar-nos da falência), com a forma como governa, é o causador de todos os males de que padece Portugal. Para ilustrar esta ideia da existência de um processo generalizado de amnésia, nos socialistas, retirei algumas frases do discurso de abertura de A. J. Seguro, no congresso do PS, que decorreu no início de Setembro.
Vejamos então o que esse senhor disse.
Diz ele acerca do PS que é “…O Partido da liberdade, da igualdade de oportunidades, da justiça e do progresso social.”
“Para o PS, as pessoas estão primeiro.” - (mas em que raio de país esteve A. J. Seguro a viver nos últimos 6 anos?)
“O PS orgulha-se dos líderes que teve. Todos eles fazem parte do nosso património, todos eles construíram a nossa identidade.” Ora então vejamos como foram os grandes líderes socialistas. Mário Soares, há anos que é um sugador de dinheiros públicos (Fundação, segurança das habitações, várias mordomias por ter sido Presidente da República e sabe-se lá mais o quê). Além disso, foi com ele que veio a Portugal, pela primeira vez, a ajuda do FMI. Guterres esbanjou enquanto houve (…dinheiro amealhado pelos governos de Cavaco Silva) e quando deixou de haver, demitiu-se. Sócrates deixou o país à beira da bancarrota, fruto de decisões políticas erradas, e depois... demitiu-se (…e ainda tem por explicar os trezentos e tal milhões de euros que parece possuir). É esta a identidade do PS, esgotar os recursos financeiros do país para depois se demitirem ou solicitar ajuda internacional, endividando ainda mais o país.
“O PS precisa de se aproximar mais dos trabalhadores portugueses, dos que têm emprego e dos que estão desempregados. Portugal tem cerca de 700 mil desempregados! É um drama para cada um e uma chaga social. Em particular para os jovens e para os desempregados de longa duração”.- (…quem terão sido os responsáveis pelos 700 mil? E pelos jovens desempregados?)
“Sei bem como é difícil ser socialista na Madeira. É inaceitável a forma como se faz política na Madeira. Há longos anos que há um défice democrático, com que poucos se incomodam.” – (isto tem piada, como é que ele nunca ficou incomodado com o défice democrático na forma como se fez política, no continente, durante os últimos 6 anos?).
“Os madeirenses, em particular os que têm uma actividade cívica e a comunicação social conhecem bem as consequências de terem uma opinião diferente do poder instituído”.
“Queremos toda a verdade. Queremos saber o valor real da dívida directa e indirecta da Madeira. Onde e como foi aplicado o dinheiro dos contribuintes. Exigimos o apuramento das responsabilidades de toda a natureza.” – (será que ele vai exigir o mesmo sobre a governação de Sócrates?)
“Saúdo os socialistas dos Açores, e o nosso camarada Carlos César pelo trabalho que têm desenvolvido. Que diferença vai entre a Madeira e os Açores! Que diferença!” – (efectivamente há uma grande diferença, a Madeira é a 2ª região mais rica de Portugal; o desemprego é baixíssimo, o índice de qualidade de vida aumentou 19,7% desde 2001, a maioria dos eixos de actividade apresenta um elevado desempenho,… Basta ver as estatísticas).
“Este Governo [de Passos Coelho] dispõe de maioria absoluta. Não necessita de negociar com nenhum outro partido. Não tem desculpas. Basta-lhe decidir e executar. E é assim que tem feito. Infelizmente, tem decidido e executado mal.” - (…ou ele pensa que Sócrates ainda governa ou então gostaria que este governo tomasse medidas à socialista e conduzisse o país definitivamente à bancarrota).
“Nestes primeiros 80 dias, [o governo] já deixou três marcas: injustiça social, incumprimento eleitoral, insensibilidade social.” – (…esta não comento, só apelo à memória dos leitores relativamente aos últimos 6 anos).
“Mais impostos é receita fácil para o governo, mas muito difícil para as pessoas que passam os dias a fazer contas à vida.” – (mas porque será que os socialistas só se lembram disto quando são oposição???)
“O PS está ao lado dos portugueses contra estes novos sacrifícios” – (o PS, quando oposição, está sempre ao lado dos portugueses. A governar, está sempre ao lados dos…deles).
“Para o PS não há portugueses de primeira nem portugueses de segunda”. – (saberá Seguro que foi durante os últimos 6 anos que mais aumentou o fosso entre ricos e pobres? Ou isso não lhe interessa?).
“Contas públicas equilibradas e rigor orçamental são condições necessárias para garantir a sustentabilidade do Estado e das políticas públicas…. Para o Governo o rigor orçamental é um fim em si mesmo que deve existir porque os mercados assim o exigem. Para a esquerda democrática a exigência de rigor nas contas públicas tem a ver com as pessoas e não com os mercados.” – (…socialistas a defender rigor nas contas públicas? Realmente já vi muitas coisas mas esta…)
“Ainda há poucos dias ouvimos o Primeiro-ministro dirigir-se em tom de ameaça aos portugueses que ousarem manifestar-se ou exprimir-se livremente. Creio que em democracia foi a primeira vez que um Primeiro-ministro ousou fazê-lo. Pois eu quero daqui dizer ao Senhor Primeiro-ministro que o Partido Socialista não teme nem a voz nem a iniciativa dos cidadãos.” – (bem, ele não se lembra certamente das inúmeras vezes que cidadãos foram calados, inclusive com apreensões de material a utilizar em manifestações, por parte da polícia, durante governos socialistas).
“Há quem faça política para as TVs e para os jornais eu quero um PS a fazer política para as pessoas e com as pessoas.” – (…o que me deixa muito curioso é o facto de Seguro ter efectuado este discurso precisamente às 20h, quando começam os jornais informativos nas estações de TV. Até o seu camarada António Costa referiu que o que Seguro quer é protagonismo televisivo).
“Estou certo que deste Congresso vai sair um PS forte, renovado, responsável e ambicioso”. – (principalmente renovado mas…com os mesmos do costume).
Pois estas afirmações de A. J. Seguro, proferidas num congresso do PS, em que estiveram presentes os que levaram este país à falência, levam-me a pensar o seguinte:
Como pode um partido, que não assume os seus erros de governação, ter a confiança dos portugueses e estar preparado para ser alternativa ao actual governo?
Como pode um partido, que não assume os seus erros de governação, fazer uma oposição séria e credível?
De qualquer forma e porque o português normalmente tem a memória curta, eu gostaria de vos dizer que afinal Sócrates não “morreu”. E a prova disso é a de que estamos hoje e certamente estaremos durante muitos anos, a pagar pelos seus erros levianos, que nos conduziram à situação em que nos encontramos hoje.
PENSO QUE O PERÍODO DE GOVERNAÇÃO DE SÓCRATES, EM LUGAR DE SER ESQUECIDO POR SER MUITO MAU, ANTES DEVE SER RELEMBRADO CONSTANTEMENTE PARA QUE NÃO VOLTE A ACONTECER SEMELHANTE COISA.
Para relembrar, aqui ficam alguns factos que nos afectaram bastante, pela negativa, pois sentimo-los na pele, nos últimos anos.
· Quem deixou o país na miséria foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a aumentar impostos foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a mentir ao país foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a aumentar desmesuradamente a dívida externa e empenhou o país por muitas gerações foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a controlar e condicionar a comunicação social foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a controlar e condicionar a Justiça foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a dar empregos aos “boys” do partido foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a esconder a situação real em que o país se encontrava, mentindo a tudo e a todos foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a brincar com a Educação e transformou o conhecimento em simples estatísticas foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem endividou o Estado e portanto os portugueses com as Parcerias Publico-Privadas foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a fechar maternidades, urgências, SAP’s, centros médicos foi José Sócrates e os socialistas.
· Quem andou a libertar os bandidos, transmitindo um sentimento generalizado de insegurança foi José Sócrates e os socialistas.
· …
A lista é de tal forma enorme que seria impossível apresentar tudo aqui. No entanto quero só acrescentar mais uma:
· Quem deve enfrentar a Justiça, por tudo o que referi antes, é José Sócrates e os socialistas que o acompanharam.
Depois de tudo isto, ainda vem A. J. Seguro acusar o actual governo de assumir medidas muito duras para as pessoas. Porque não se preocupou ele com as pessoas, quando Sócrates as atacava constantemente?
Se este executivo de coligação teve, tem e terá de tomar medidas duras para as pessoas, para consegui tirar o país desta situação degradante em que se encontra, sabemos bem quem são os seus responsáveis: os socialistas.
Mais. Se há medidas que este governo está a aplicar e que não estavam previstas no memorando da Troika deve-se ao facto de, aquando da sua assinatura, ainda não serem conhecidas algumas situações que estavam escondidas e que mais tarde vieram a público.
Mas para se compreender melhor esta atitude de Seguro, vejamos o que ele disse a Sócrates, no final de Maio de 2011 (a cinco dias das eleições de 5 de Junho), em Fafe, no círculo de Braga, por onde era candidato à Assembleia da República:
“É por isso, meu caro José Sócrates, que hoje aqui estamos todos, juntos, unidos (…) para somar as nossas energias, para somar as nossas forças e para te dizer que aqui no Minho o PS conta com todos nós e tu contas com todos nós nesta luta até à vitória no próximo dia 5 de Junho”.
Cá está, o apoio inequívoco de Seguro ao seu líder, José Sócrates. Logo, Seguro concordava com o que Sócrates estava a fazer aos portugueses e ao país. Daí a pergunta:
Será que Seguro merece o nosso respeito, a nossa confiança?
A minha opinião é-lhe completamente desfavorável.
Aliás, Seguro tenta transmitir a ideia da existência de um novo PS, tentando descolar do período em que Sócrates governou. Mas simultaneamente continua rodeado de algumas pessoas que estiveram no anterior governo e que nos conduziram ao descalabro económico e financeiro, situação de quase bancarrota, o que para quem quer fazer oposição séria, não deixa de ser estranho e caricato.
Em jeito de conclusão quero referir que:
António José Seguro revela-se assim como mais um socialista, à semelhança de Sócrates, com um sentido apuradíssimo para a fantasia e ficção. Também ele pensa que vive num país abastado, onde as pessoas vivem alegres e satisfeitas, onde tudo é bom e bonito e onde nada corre mal.
Além destes aspectos, apresenta também um estado patológico, em estado avançado, designado por amnésia.
Na minha opinião, A. J. Seguro é um líder a prazo. Só resta saber quando cai.
Nota: coitado do homem, nem no líder do grupo parlamentar teve sorte. A primeira intervenção de Carlos Zorrinho, na Assembleia da República, demonstrou bem a divisão que reina no seio do PS, apesar do líder Seguro afirmar o contrário.
Enfim…, tristezas…
Bem hajam.
Viva Portugal
João Pando